Texto escrito pela Psicóloga Natália de Paulo Abreu / CRP 16/6094
Podemos dizer que as iniciativas visando a prevenção ao suicídio surgiram em 1994, nos Estados Unidos – Colorado, a partir da família e amigos de um jovem que havia cometido suicídio. A família percebeu que apesar da dor de não ter conseguido evitar a morte de seu filho, o acontecimento não poderia ser em vão. Por isso, desenvolveram uma campanha que levava a lembrança do jovem Mike, apaixonado por um Ford Mustang amarelo, que ele mesmo reformou.
As lembranças consistiam em fitas amarelas da cor do Mustang de Mike, presas a um cartão com a frase “se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”, ao final de velório do jovem, todos os cartões haviam sido distribuídos e começaram a ser espalhados pelo país assim, uma semana depois, os pais de Mike haviam recebido várias ligações, cartas e e-mails de pessoas que haviam recebido os cartões. A partir daí, a Yellow Ribbon, tornou-se um programa de prevenção ao suicídio.
Em 2003, a Organização Mundial da Saúde instituiu o dia 10 de setembro como Dia mundial da Prevenção ao suicídio. No Brasil, em 2014, a iniciativa do Setembro Amarelo foi criada pelo CVV (Centro Valorização da Vida), em parceria com associações e conselhos.
Mesmo com essas iniciativas percebemos que as estatísticas são alarmantes, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio a cada ano, o que corresponde a uma morte a cada 40 segundos. E a melhor forma de prevenir que esses números se multipliquem é a divulgação de informações sobre o assunto, somada a uma postura empática.
Ademais, o suicídio é um fenômeno complexo, onde não cabe a atribuição de uma única causa, além de afetar diversos grupos e indivíduos de diferentes raças, gêneros, idades, culturas e níveis econômicos. No entanto, é fundamental entender que existem alguns grupos mais vulneráveis ao suicídio entre eles estão: jovens com idade entre 14 a 24 anos; homens (jovens e acima de 70 anos); trabalhadores da indústria de fumo, grupos sociais em situação de risco (acesso limitado à educação, saúde, emprego), indivíduos com falta de perspectiva de futuro, além daqueles que já dispõe de algum transtorno psíquico, ou aqueles em tratamento de algum tipo de doença.
Além de conhecer os grupos de risco, é relevante identificar os sinais apresentados por um indivíduo em sofrimento, embora esses fatores não sejam isoladamente um indicativo, a presença de muitos desses sinais, ao mesmo tempo, deve ser levada em consideração. Dentre os fatores observados estão o surgimento ou agravamento de problemas de conduta, incluindo manifestações verbais no período de duas semanas; isolamento; desesperança; intenções suicidas; ausência de autocuidado. Somado a estes, outros acontecimentos devem ser considerados importantes, mesmo que não sejam determinantes, a perda de um ente querido, desligamento do trabalho, doenças crônicas ou dolorosas, discriminação da orientação sexual.
Desse modo, ao perceber esses sinais ou ser procurado por alguém em sofrimento, ajude a pessoa a perceber que é ouvida com atenção, não julgue a situação como simples, incentive a buscar ajuda de um profissional da saúde mental e se disponibilize a acompanhá-la. Caso observe que a pessoa está em risco iminente, preste a cometer o ato, não a deixe sozinha, procure orientação profissional (CAPS, unidades básicas de saúde e serviços de emergência) ou, entre em contato com alguém em quem esta confie e indique; Verifique se existem meios que ofereçam perigo (armas de fogo, medicamentos, pesticidas) e, mantenha contato, busque saber como a pessoa está e o que faz no momento.
Por fim, é essencial destacar que as informações sobre suicídio, o acolhimento ao indivíduo em sofrimento e a disposição em auxiliá-lo devem ser cultivados e disponibilizados durante todo o ano. O Setembro Amarelo é um movimento que visa despertar a sociedade sobre a importância de considerar este assunto como primordial. Quanto mais abertura e empatia tivermos ao próximo mais vidas podem ser salvas e menos pessoas sofrerão as consequências deste ato. Mensagens positivas e iniciativas durante o mês são de extrema importância, mas, além disso, é importante considerar o ano inteiro que o suicídio não é frescura ou uma atitude para chamar atenção, mas um pedido de socorro de alguém que sofre. Cabe indicar novos horizontes de possibilidades para que o sofrimento seja superado, sem culminar em um trágico ponto final.