Jailton Pedroso é natural do município de Nanuque (MG) e veio para Cachoeiro para trabalhar no antigo hospital “Mãe Dindinha” e há 11 anos ele é o Superintendente do Hospital Infantil “Francisco de Assis”. Antes de chegar ao Hifa trabalhou nas secretarias de Saúde de Castelo e Mimoso do Sul, é formado em Administração, pela Faccaci, pós graduado em Gestão Pública e espera em breve terminar um MBA em gestão Estratégica.
Além do Hifa, Jailton também está à frente da gestão do Hospital “Francisco de Assis”, em Guarapari, do Hospital “Andréa Canzian Lopes”, em Atílio Vivácqua e do Pronto Atendimento Municipal “Otacílio Geraldo do Carmo”, localizado em Vargem Alta, unidades que também fazem parte do Grupo Hifa, juntamente com o Pronto Atendimento Infantil de Cachoeiro, que embora seja municipal é gerida pelo Hifa. Na vida pessoal ele é pai dos gêmeos João e Francisco e da pequena Liz, fruto de sua união com a médica Bárbara Salgado, sua companheira.
Jailton é considerado uma pessoa destemida e determinada, que com sua vasta experiência hoje é reconhecido com um dos grandes gestores da saúde pública no Espírito Santo. Nesta entrevista ele fala sobre o início de sua carreira e conta qual é sua visão de uma gestão pública de qualidade que atenda aos anseios da população.
Como foi sua chegada à gestão do Hifa?
Cheguei ao Hifa para dar uma consultoria apenas em captação de recursos. Com três meses conseguimos recursos jamais vistos pela unidade. Depois disso a diretoria decidiu me contratar. Na época fiz algumas objeções, entre elas de que a gestão saísse do município e fosse devolvida ao grupo espírita (Grupo Espírita Jeronymo Ribeiro, fundador do Hifa), para que ele pudesse ser administrado de forma independente como instituição filantrópica. Nesta época o presidente era o Atílio Traváglia (então vice-prefeito da cidade) e ele aceitou. Outra exigência no hifa foi fazer um planejamento sustentado em governabilidade e economia. Construímos um conselho formado por empresários da cidade, grandes pessoas que começaram a trabalhar em prol do instituição e assim o Hifa começou e se ordenar. Com dois anos mudamos radicalmente. Compramos o prédio da Mãe Dindinha com recursos próprios e federais, este último, com apoio imenso do (ex prefeito) Ferraço, e levamos o Pronto Socorro Infantil para este local. Isso desafogou o hospital e deu muito mais conforto à população. Sou grato a algumas pessoas nessa cidade e o Atílio é uma dessas pessoas. Ao Sr. Winston, que me deu a mão na hora que mais precisei. E também tenho uma gratidão imensa pelo José Luiz Machado ao Celso Gonçalves. São pessoas que me ajudaram muito no início da vida em Cachoeiro.
Qual é sua visão enquanto gestor da saúde pública no Brasil?
Os municípios estão muito atrasados em relação as políticas públicas na área da saúde. Políticas que realmente sejam sustentáveis e voltadas para a população. Os municípios só têm saúde hoje voltada pra área curativa e para compra de ambulância, enquanto precisariam ter políticas humanizadas e planejadas para a criança, para o adulto, para o idoso, para a mulher, para o hipertenso e para o diabético, entre outros grupos específicos. O Hifa, por exemplo, era sofredor por causa dessa má política de gestão dos municípios, que não cuida da criança como deveria. A criança não tem follow up, não tem planejamento familiar, não tem um ambulatório multidisciplinar. Temos que ter um olhar para este paciente e sua família de forma diferenciada e oferecer o melhor serviço neste momento delicado na vida deles.
O Hifa sempre é reconhecido pelo seu tratamento humanizado a pacientes e familiares…
Quando nós chegamos já havia uma humanização muito grande no Hifa, mesmo nas dificuldades. Quem estava aqui ia pra rua pedir dinheiro, fazendo pedágio e o que mais fosse possível. A assistência já era humanizada com o apoio da D. Jandira Pinheiro (uma das fundadoras do Hifa) e do grupo espírita. Então nós herdamos este legado e implantamos uma gestão técnica, eficiente, de resultados onde as pessoas precisam dar conta dos seus serviços. O Sr. Winston também imprimiu sua marca no Hifa, trazendo sua credibilidade e mantendo este tratamento aos pacientes e seus familiares, porque essa é uma característica dele, que ele conseguiu embutir em toda equipe.
O que falta para que a saúde pública funcione de forma efetiva?
Falta prioridade. Se todos os governos colocassem a saúde como uma grande prioridade e entendessem que não basta apenas boa vontade. Isso nos faz tocar o barco, mas o que faz o barco andar é um motor competente. É preciso montar uma equipe de alto nível e entender que a saúde pública é extremamente complexa na gestão. É preciso ter grupos de consultores para montar ações programáticas em saúde. Por que um diabético não tem um serviço em saúde especifico para ser atendido? O diabético e o hipertenso representam 30% da população doente. Por que esse percentual de pessoas não pode ter um atendimento referencial, com uma equipe de profissionais que o atendam de forma específica? Então se essa parte da população não tem aonde ir, os outros também não terão. Uma equipe técnica qualificada tem recursos finitos, mas as necessidades da população não são. Então quando você elege as prioridades tem como planejar e executar de forma preventiva. Ofertar saúde de qualidade à população não é difícil. Basta que o serviço seja priorizado.
O fato de estar à frente de um hospital que cuida de crianças te influenciou como pai?
Sem dúvida. Ter filhos depois de um período tardio, é uma dádiva divina, um presente que recebi de Deus por ter cuidados de tantas crianças de outros pais aqui dentro. Recebi três bênçãos do céu e uma grande parceira para me ajudar, que é a Bárbara.
Publicado originalmente em: http://www.revistaleia.com/leia/pagina_interna.asp?nID=10770